Ajudar os outros...
Quando eu era miuda, tinha uma amiga cujo agregado familiar era grande e era só o pai a trabalhar para dar de comer áquela gente toda. A minha mãe tinha muita pena das miúdas (eram quatro de idades diferentes) e estava sempre a dizer-lhe para almoçarem aqui comigo. Um dia uma, outro dia outra e assim lá lhes ia matando a fome. Havia uma que adorava a feijoada da minha mãe e sempre que a minha mãe fazia, ela vinha sempre cá almoçar, não falhava. E quem diz comida, dia muitas outras coisas. A minha mãe sempre teve este enorme coração, sempre gostou de ajudar os outros (muitas vezes em detrimento de si própria) de fazer o bem sem olhar a quem.
Todas nós crescemos e seguimos com as nossas vidas. Duas delas conseguiram casar com maridos ricos e a nível monetário estão muito bem na vida. As outras duas digamos que estão bem melhor do que eu. Têm vidas organizadas e desafogadas monetariamente. O único probelma que lhes é comum é a "Memória Curta". Quando vinham visitar os pais, eram incapazes de tocar à porta ou chamar à janela para dizer olá ou saber como nós estávamos.
Passados uns anos, uma amiga minha viu-se em apuros e eu dei-lhe a mão. Ela era uma brasileira casada com um português. No Brasil, tinham uma boa vida, eram donos de um restaurante-bar e tinham uma vida organizada. Um dia a tragédia bateu-lhes à porta: um incêndio consumiu-lhes a casa onde tinham a casa e o restaurante. Ficaram sem nada, com um bebé de poucos meses nos braçoes e pão com manteiga e café que os vizinhos lhe davam para comer. Com a ajuda da família, vieram para cá.
Como a família já os tinha ajudado muito, vieram falar comigo. Precisavam de dinheiro para comprar alguma mobília para a casa que tinham alugado para deixarem a casa da família onde estavam a viver. Na altura, eu tinha um bom ordenado e não tinha responsabilidades, e pude emprestar.lhes o dinheiro. Ajudei-os muito de outras formas: roupa e comida para o bebé e para ela e muitas outras pequenas coisas. Depois de contas acertadas e como agradecimento pela ajuda e amizade, fui madrinha do seu segundo filho.
Até que esta amiga começou a mostrar um comportamento bipolar. Começou a fazer comentários desagradáveis e ofensivos contra a minha pessoa, a cobrar certas e determinadas coisas que ela "achava" que eu devia pensar e fazer. Eu que sempre fui meio rebelde quanto áquilo que os outros acham que eu devo pensar e fazer, que sou muito sensível com as injustiças e não me achando merecedora de tais atitudes, calei-me e afastei-me. A consequência? Perdi o contacto com o meu afilhado. Lamento-o profundamente mas se o pai quisesse que houvesse contacto trazia-o aqui a casa uma vez que estão sempre a visitar a irmã que mora na rua de baixo e, ao longo destes anos, foi incapaz de me vir mostrar o menino. e o erro não foi meu, foi dela, e o marido sabe disso.
Em suma, as acções ficam para quem as pratica, assim como o peso na consciência. Não desejo mal a ninguém, mesmo até a quem me fez já muito mal. Eu sempre fiz o que achei que devia fazer, sem cobrar e nem esperar nada em troca. Esta sou eu, a Pepper que vocês conhecem...